O que é a Neuroarquitetura e como aplicá-la nos seus projetos?

Uma tendência que nunca sai de moda na arquitetura, sem dúvidas, é a qualidade de vida. Oferecer projetos e espaços, sejam eles residenciais ou comerciais, que promovem a saúde e o bem-estar físico e mental dos seus usuários. Partindo dessa premissa como principal objetivo, nos últimos anos, se popularizou a Neuroarquitetura: a união da neurociência, associada à psicologia, e da própria arquitetura.

A área, criada pelo neurocientista Fred Gage e pelo arquiteto John P. Eberhard, em 2003, estuda como um determinado ambiente – e sua percepção espacial, cores, luzes, temperatura e demais elementos – é capaz de impactar diretamente nas reações do cérebro, nas alterações de humor e comportamento. Isso porque essas sensações influenciam em áreas como o hipocampo e córtex cerebral, responsáveis pelas nossas respostas emocionais.

Antes do projeto, uma boa conversa

Sempre tive o hábito de conversar bastante, tentar me colocar no lugar de cada cliente, e acredito que essa etapa seja fundamental na Neuroarquitetura. Então, antes de dar início ao projeto de um único ambiente ou de uma casa inteira, combino um bate-papo, no formato de entrevista, mesmo, para entender melhor as necessidades e expectativas do indivíduo e/ou família.

Meu briefing envolve tanto perguntas pessoais, sobre suas respectivas rotinas, o que mais gostam de fazer, suas cores preferidas; quanto questionamentos mais específicos para o trabalho, como quais sensações eles esperam sentir e transmitir em um determinado local ou o que não gostariam que tivesse na nova estrutura ou decoração. 

São questionamentos bem personalizados para poder alcançar o máximo da vida dessas pessoas. É como se eu tentasse até mesmo viver um dia da vida deles. E é através dessas respostas que consigo ter mais ferramentas de projeto e posso pensar em materiais para deixar o ambiente perfeito para quem vai utilizá-lo.

E na prática?

Usando como exemplo um consultório de uma médica ginecologista que fiz recentemente, precisei entender melhor sobre a sua especialidade, tipo de público, como suas pacientes chegam até ela, etc. Nesse caso, um detalhe importante foi que a médica não atende obstetrícia, apenas ginecologia, o que significa que o seu público não são mulheres que estão querendo engravidar no momento. Nada de “futuras mamães”!

Ainda assim, de acordo com a cliente, o ambiente deveria passar a sensação de acolhimento. Por isso, decidi usar a madeira para fazer uma divisória que, ao mesmo tempo que fosse rígida, firme, confiável (característica que costumamos esperar enquanto pacientes), fosse também “maleável”, tivesse um certo movimento e transparência, mas cumprisse o objetivo de esconder a maca, onde são realizados os exames.

Na mesa, usamos o mármore para contemplar o pedido da médica sobre a sensação de leveza e feminilidade. Isso eu achei bem interessante: ao utilizar um mármore branco, num desenho legal, com bordas chanfradas, conseguimos fazer um paralelo desse uso à mulher: algo aparentemente delicado, porém firme, forte como uma pedra.

É dessa forma que costumo trabalhar, sempre tentando ao máximo me aprofundar em cada caso, em cada sonho, cada pessoa por trás de um projeto. Cada um tem a sua personalidade e sua própria bagagem, e, meu papel como arquiteta, é de amparar o projeto na questão técnica (levando em consideração o que funciona ou não), não só estética. Minha arquitetura é para as pessoas, não para mim.

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Camila Tannous
É arquiteta, especialista em Neuroarquitetura, e trabalha em projetos e execução de obras, consultoria e repaginação (online ou presencial) em Campo Grande (MS). | @camila.tannous.arquitetura

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